sábado, junho 10, 2006
Rio querido, eu vou mas volto correndo
E tudo porque vou passar a semana numa cidadezinha colonial, bonita que só – mas sem mar, o que é grave – e só com algumas favelas na periferia. Tudo porque lá as pessoas ainda deixam a porta só encostada e nada acontece; e ainda conversam de tarde numa rodinha de cadeiras na calçada, trazem cafezinho pros amigos da roda, e os jovens ficam na pracinha de noite. Porque depois do almoça fica um marasmo de sossego, todos curtindo a sesta, e a chocolateria-cafeteria da praça serve umas coisinhas que me dão a impressão de estar aqui, Rio. E porque de madrugada se dorme o sono dos justos, e se não dormir não ouve nem um sonzinho longínquo de passos ou alguma voz.
E ainda por causa dessas coisas incríveis, cá pra nós, que bem conhecemos nossa São Sebastião, temos a impressão de que chegamos lá na cidadezinha sossegada e cordial levando algum vírus de discórdia, quem sabe capaz de contaminar as mentes tranqüilas e tão ingênuas que nos recebem com tanto gosto, ao menos aparente. E porque temos certo receio de que eles um dia possam até ficar com medo da gente só por ser do Rio.
E também porque – bem que sabemos – têm uma invejinha ferrada de nossos quilômetros de praia, e sempre que podem correm para cá, para o Rio de todos os males, e as meninas bem branquinhas vão à praia de biquíni novo e batom nos lábios e botam até perfume, as sacripantinhas, pra no dia seguinte andar se arrastando com as costas em fogo.
E ficamos pensando que cordialidade e simpatia também não são privilégio de nenhuma cidadezinha sossegada; que aqui mesmo, nesta urbe amalucada e esquizofrênica, temos exemplares majestosos de bondade, de solidariedade, sem falar no bom humor e na coragem com que se enfrentam o perigo, as incertezas de cada dia, a arbitrariedade de alguns, as más notícias do jornal e o trânsito, que não conseguem impedir a alegria, apagar as cores nem tirar o prazer de viver dos cariocas de verdade.
Então vamos de visita, passamos uns dias apreciando as belezas locais, o friozinho serrano, as construções românticas, os causos e a comidinha, que é ótima. Mas vamos também pra sentir a saudade do Rio apertar e principalmente pra ter o gostinho inigualável de voltar e ver que tudo continua aqui e que o bom do Rio ainda é mais, muito mais do que o que dizem por aí.
dito por dade amorim
6 Comments:
Melissa said...
Adelaide, como vc disse que estava com problemas para acessar o blogger, aqui estou eu dando um jeitinho para deixar pelo menos uma mensagem de boa semana para vc, viu?
Beijo e tudo de bom! Volte logo!
li stoducto said...
Oi, Dade, ói eu aqui, passando rapidamente, depois de tréculos sem micro! :))))
Que lugar é esse, hein? Conta! Já voltou?
beijos
Anônimo said...
vê como ando que nem tinha visto sua participação aqui. Vou linkar já o papo ed botequim.
Eu adoro o interior, sempre somos bem tratados. Mas em grandes centros.... já fui muito maltratada só por ser paulista. Vai entender o porque..
beijocas mil
M. said...
Boa viagem, minha querida Adelaide! Se que seus olhos sempre descobrem mistérios indecifráveis de cada lugar.
dade amorim said...
Brigadinha, queridos, mas é verdade e dou fé: adoro ir, mas voltar tem um gostinho todo especial... O lugar é Mariana, Li, lá nas Minas Gerais. Mas já tou aqui de volta, viu? Beijos gerais.
Silvia Chueire said...
Tradução exata !
Beijos,
Silvia
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