quinta-feira, setembro 28, 2006
Cariocas daqui e de outras plagas
Churrasquinho de calçada, chope no meio da rua, festa de play de edifício se esparramando em decibéis enlouquecidos, vozes que brigam, gente que grita, berro de aviso, risos. Cumprimentos, intimidade tácita até entre pessoas que estão se conhecendo agora por circunstâncias fortuitas: fila de ônibus, de elevador, de bar, de bilheteria; mães na porta da escola, papo de sala de espera. Já fiz amiga de infância na fila do banco.
Não há método mais empírico de convívio que o do Rio. As pessoas se manjam só de olhar. O impulso é de igual pra igual, sempre. Instintiva empatia ou instintiva rejeição. Assim vive o carioca. E quem não entrar no esquema, pode ir saindo, saltando de banda, porque não vai achar morada no coração do outro. Até pra se estranhar, podem saltar as preliminares e ir direto aos finalmente.
Se alguém precisa de ajuda, ninguém é mais solidário que os daqui. Velhinhos estatelados, crianças chorando sem achar a mãe, pessoa passando mal na rua. Grávida tem que viajar sentada, assim como pessoas com crianças de colo. Vai levar pouca coisa? Passa minha frente na fila do caixa. Não seja por isso.
Basta sorrir. Dar atenção. O outro se abre, abre o sorriso, a corola, o coração. Capaz de abrir até a mão, ainda que não tenha o suficiente nem pra ele mesmo. Gesto de simpatia, delicadeza, calor de receptividade têm efeito imediato.
Quem é carioca é assim, tenha nascido em que estado for. O resto são filisteus.
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No Bandeira 1:
Esse silêncio de minha rua faz muito ruído. Me tira do sério. Me tira do Rio. Me tira de mim. Que venham as sereias.
dito por dade amorim
6 Comments:
li stoducto said...
deixei recado lá no bandeira, deda...
;)
beijão
li stoducto said...
na minha juventude boêmia em copacabana, ipanema e leblon, pra minha turma na época, eram "filisteus" TODOS os que moravam antes do túnel (novo) .
só quem morava no "Solar da Fossa" - onde de vez enquando uma ambulância do Pinel - quase ali ao lado - vinha buscar um que surtava - em Botafogo, onde hoje é o Rio Sul, é que escapava de ser chamado de "além túnel"... :))))
sabe a expressão "fulano tá pinel"?
pois é... vem desta época...
beijos, querida
;)
dade amorim said...
Li, tive amigos dessa turma - lembro o jeito, os penteados, as expressões. Associo também a figura da Maysa, que veio antes, a essa turma. Acho que a voz dela me faz lembrar alguém desse tempo. Mas que era bom, era, né? ;) Beijoca.
Anônimo said...
Bom, então parece que a maioria das pessoas que vive no Rio não é carioca.
li stoducto said...
O Rio, como toda megalópole, é um lugar que recebe gente de todas as partes do Brasil e do mundo, ô anônimo!
É óbvio que a maioria que vive aqui é carioca pois uma coisa não exclui a outra.
Anônimo said...
o coração e a alma do rio estão plantados na Lapa, nada é mais carioca do que ela. Ali se respita desde o descobrimento até os dias de hoje
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