quarta-feira, março 22, 2006
CORREDOR CULTURAL
Chico Anysio
O grande Nelson Rodrigues detestava se afastar do Rio de Janeiro. Sabendo disso, os amigos perguntavam: “Como é, Nelson, vais a São Paulo ver o Fluminense jogar?” E ele respondia: “Depois do Méier, começo a sentir saudades do Brasil”. Ao contrário de Nelson, se pudesse, viveria viajando. Uma coisa é certa, não morro sem conhecer a Grécia. Sonhos à parte, vamos ao que eu chamo de “um passeio inesquecível”.
Há cerca de uns dezesseis anos, o João Carlos, meu amigo e meu marchand, fez, com a família, uma fantástica programação de férias de meio de ano. Começou a imaginar quantos estrangeiros se deslocam de todas as partes do mundo para conhecer o Rio de Janeiro. Aí deduziu que, se era bom para os turistas, deveria também ser para a sua família. Foi o que fizeram: um dia em cada ponto turístico do Rio lá estavam eles, misturados aos japoneses, franceses, italianos, norte-americanos, espanhóis, ouvindo de tudo, menos o Português. Deixou-os encantados o Corredor Cultural do Rio de Janeiro, um programa que, já naquela época, João Carlos considerou inesquecível. Poucos conhecem. Localiza-se no Centro da cidade e todo o circuito pode ser feito a pé durante os dias da semana, no horário comercial, quando o Centro do Rio é relativamente seguro.
Morando no Rio de Janeiro, ou vindo visitá-lo, não deixem de fazer o circuito cultural completo, pois creio que também vocês farão um passeio inesquecível. Há um serviço eficiente e barato: o Tour Cultural. Trata-se do transporte coletivo especial — microônibus com 30 lugares e ar-condicionado — que faz a ligação entre os principais museus e espaços culturais do Centro da cidade. Procurem o Centro de Atendimento ao Turista da Riotur, localizado na Av. Princesa Isabel, 183-térreo, CEP 22011-01, no bairro do Leme, telefone (21) 542-8080, que lhes fornecerão, graciosamente, uma publicação atualizada. (Isso é o João Carlos quem garante existir ainda). A propósito, todas as cidades — do Brasil ou do exterior — têm, por menores que sejam, algo de cultural e artístico que merece a sua atenção; é só procurar os órgãos municipais que cuidam do turismo das cidades por vocês visitadas, pois eles sempre têm à disposição informações sobre o roteiro cultural.
Você já fez o circuito cultural da sua cidade? A realidade, nua e crua, é que os “bichos da terra”, de todas as partes do mundo, não curtem o turismo de suas próprias cidades.
Conheço vários cariocas que gostam de curtir os feriadões no Rio de Janeiro. Dizem que o Rio, nessas épocas, com a debandada geral, volta ter a tranqüilidade dos anos 60/70, a cidade fica vazia e a locomoção, estacionamento, cinemas, teatros, restaurantes da moda, tudo fica mais fácil. De fato, também não vejo muita graça nos deslocamentos dos feriadões, quando muitos se aventuram em viagens de gosto duvidoso — aquelas quando se vai para um-perto-bem-longe, ou seja, quando, para se percorrer uns cento e poucos quilômetros, se pega um engarrafamento de seis horas de estrada — na ida e, depois, na volta — quase sempre para tomar banho de mar pela manhã e de repelente para mosquito o resto do dia, já que água doce, em muitos lugares, não há adutora que comporte o inchaço dos grandes feriados. Quem sabe não seria melhor, nessas oportunidades, ficar nas suas cidades curtindo o que elas têm de bom? Mas o que elas têm de bom? Nós quando vamos aí nas suas cidades — São Paulo, por exemplo — achamos um monte de coisas gostosas para fazer... A mais gostosa delas: voltar para o Rio.
Copiado de http://www.literario.com.br/chicoanisio/chico3.htm
dito por Ivy
home
|
1 Comments:
li stoducto said...
E aquele texto seu, que publiquei no RJSinfonia, faz algum tempo??? ;)
Postar um comentário