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quinta-feira, abril 13, 2006

Que bela gata amarela



Tomou o metrô na Siqueira Campos à tardinha. Vestia jaqueta de brim cinza, saia de leve algodão florido e sandália de dedo branca e azul. Nos tornozelos, correntes prateadas. Nos dedos – todos – anéis de variados tamanhos e materiais. O cabelo era louro de farmácia, a pele queimada de praia, as unhas pintadas de preto. Óculos escuros tipo deixem-me só. Carregava uma mochila meio ensebada azul-cinza de náilon. Assim que sentou no canto da janela, penúltimo banco, escondeu o rosto no braço, apoiado no rebordo da vidraça, e viajou assim imóvel até a Saenz Peña, só os cabelos amarelos à vista. Esperou que o trem parasse e abrisse as portas, e foi a última a sair. Flutuou na saia leve como se voasse escadas acima, e se alguém fixasse o olhar em seu rosto veria as espinhas, mas isso não aconteceu. Ela foi mais rápida. Cruzou o espaço entre a saída da estação e o microônibus que a levaria até a Usina da Tijuca, acomodou-se no último banco da direita, junto à janela, e tornou a mergulhar o rosto no braço dobrado. Magrinha, miúda, imóvel e secreta.
Na Santa Clara, dona Selma entrava no quarto e encontrava o armário aberto e as gavetas viradas no chão. Logo dava falta de suas jóias e dos dólares, mais ou menos no momento em que ela apeava no ponto final do ônibus.
— A desgraçada! A larápia! – vociferou a gorda senhora. Nem ao menos sei onde essa infeliz se esconde. No segundo dia de trabalho! Por isso saiu sem se despedir! E eu nem sei onde...
No início da Rocha Miranda, mochila afivelada às costas, montou na moto que a esperava, o piloto de capacete negro, jaqueta de couro e bermuda jeans. Nos pés, chinelo de dedo.


dito por dade amorim











 


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