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terça-feira, abril 18, 2006

O encontro


- Eu não, ele disse.
- Nem eu, disse ela.
E recusaram a oferta do cardápio.

Não se conheciam e esperavam amigos sentados à mesma mesa do bar. Tinham marcado às sete.
Quinze minutos, já.
Ela mignon, os cabelos longos levemente ondulados, olhos castanhos a observar tudo, vivos. Uma boca pequena e carnuda e os seios insinuando-se levemente entre os primeiros botões da blusa.

Ele observava.Era levemente alourado, o cabelo cacheado - como anjo barroco, ela pensou - os olhos miúdos e muito azuis confirmavam a impressão. Mas não a boca, esta não era de anjo. Definitivamente, disse para si mesma, não é.

Os olhos de ambos comendo o que as mãos teimavam em esconder. A tensão.

- Estão demorando, não ?
- É, estão.


Ele fazia que olhava em torno distraído, e pensava como sairia daquela situação. Todo ele voltado para ela. E perscrutava as mãos delicadas, os pelos dourados nos braços dela e o rosto. Ah, o rosto e aqueles lábios. Inquietava-se ligeiramente com a excitação, o desejo de um corpo que mal vira e parecia conhecer. Como se tivesse sido sempre assim, seu corpo atraído pelo dela. No entanto nunca a tinha visto antes, seu encontro ali era puro acaso.

Ela notou o olhar rápido dele para sua blusa e soube. Nada fez para ajeitá-la. Podia fechar um botão. Mas aí ele pensaria que ela estava deliberadamente dizendo-lhe que vira-lhe o olhar - e ele se ofenderia. Além disso e a sedução que sabia exercer, depositada naquela pequena abertura?Não quis abrir mão dela.

E a blusa continuou como estava.
E aquele olhar volta meia lhe riscava o corpo, em pleno silêncio constrangido – só o ruído dos copos, das vozes, da fumaça expelida.
Espreitou-o enquanto ele chamava o garçom. A boca que...

- Hã? Fez-se de distraída quando ele lhe perguntou se queria uma cerveja.
- Quer? Ele perguntou novamente, desta vez olhando-a nos olhos e mantendo-os nos dela, sem mencionar a cerveja.
- Quero. Respondeu-lhe sustentando no olhar a resposta que continha muito mais do que dizia. Quero, pensou, o pensamento depositado nos olhos. Ele percebeu. Sorriu um sorriso discreto para ela, para si mesmo.
E pegou a sua mão, puxando-a levemente para si.Levantaram-se sem esperar os amigos, pagaram a conta, e foram-se.
As mãos dadas, e os sorrisos.



Silvia Chueire


dito por Silvia Chueire




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