segunda-feira, abril 24, 2006
O Rio por Chico - duas paixões
Acordei sonolenta, nesta manhã, como ocorre em todos os domingos, e fui pegar o jornal na porta. Despertei-me inteira ao ver, na primeira página do jornal O Globo, aquela foto enorme de Chico. Seus olhos azuis realçados pelo relógio da Central ao fundo. Chico e Rio de Janeiro exercem um poder supremo sobre a minha capacidade de emoção. E, só por isso, meu domingo já teria valido a pena. Dentro, na Revista de Domingo, também ele na capa, sob o título "Ele é Carioca". É sim, nada é mais carioca do que Chico Buarque. E era a sua voz, o seu canto, que estava faltando neste nosso cenário de desesperança. Agora, num gesto de amor à cidade e também às suas mazelas, ele lança o novo CD, intitulado CARIOCA e voltado para um lado do Rio mais esquecido, que não sai em cartão postal, mas que é forte e deve ser cantado.
E ele diz: "O Rio está ferrado. A classe média está apavorada e os favelados são tratados como subcidadãos". É verdade, Chico. O Rio tá ferrado, assim como o coração de seus amantes, mas seu canto de amor à cidade, nem sempre tão maravilhosa nos dias de hoje, há de aliviar algumas feridas.
O cotidiano carioca sempre esteve presente no trabalho de Chico, com as mais pitorescas imagens, quase pictóricas, e com frases musicais que só sairiam daqui deste pedaço. Do sinal fechado onde o pivete vende chiclete às casas simples dos subúrbios com cadeiras na calçada, passando pela ópera da boa malandragem, Chico sempre soube traduzir com perfeição a alma do Rio.
Canta, Chico. Canta por nós, canta nossas mazelas e nossas delícias. Faltava a sua voz. O Rio de Janeiro agradece. Estou mais feliz.
Entrevista completa à Revista de Domingo
Clip de trechos da entrevista
Subúrbio (canção do próximo CD)
Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem
atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é
labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade
Vai, faz ouvir os acordes do
choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de
samba
Dança teu funk, o rock, forró,
pagode
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa
Lá não tem moças douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha tua voz
Nos arredores
Carrega tua cruz
E os teus tambores
Vai, faz ouvir os acordes do
choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de
samba
Dança teu funk, o rock, forró,
pagode
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia
Naquela que te sombreia
dito por M.
4 Comments:
li stoducto said...
o chico é o seguinte.... É O CHICO!
:))))
Darlan M Cunha said...
Sim, ainda se pode contar com uma concepção de vida fulgurante, como é a deste Francisco.
Silvia Chueire said...
Post de mestre com mestre. : )
Beijos,
Silvia
Anônimo said...
Muito bom passar por aqui e ler isso.
O Rio está para o Brasil assim como a Chico está para a MPB.
(Off topic) Pra quem gosta de Chico e da boa MPB indico o álbum Seu Francisco do músico e poeta Oswaldo Montenegro. Divino.
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